Por Cristina Almeida
Embora a história nos lembre que o trabalho é uma pena a ser cumprida, ao longo dos anos o homem passou a ter uma relação muito estreita com a atividade que lhe garante o pão de cada dia. Trabalhar não só dignifica, mas permite que as pessoas se expressem através da profissão: o homem é que ele faz. Perder o emprego – e, portanto, a própria identidade – é tido como uma das experiências mais traumáticas e estressantes que uma pessoa pode experimentar. Para o psicólogo americano James Pennebaker, da Universidade do Texas, autor do livro Abra seu coração - o poder de cura através da expressão das emoções (Ed. Gente, 2007), escrever sobre pensamentos e sensações ligados a uma demissão inesperada, ajuda a superar os sentimentos negativos e pode diminuir o tempo de espera para uma recolocação.
Segundo o psicólogo, o que acontece no mundo do trabalho é que, depois de uma experiência como essa, as pessoas sentem muita raiva. Na ocasião da primeira entrevista após a dispensa, o candidato geralmente não consegue disfarçar esse sentimento em relação ao antigo empregador. Assim, acaba saindo do páreo para o novo trabalho. Além disso, como não consegue se livrar dessa sensação, pode colocar em risco a saúde. A conseqüência é o enfraquecimento das defesas imunológicas e das atividades cardíaca e vascular, bem como do funcionamento bioquímico do sistema cerebral e nervoso.
Executivos escritores
Conhecedora dos experimentos de Pennebaker e entusiasmada com os resultados obtidos em suas pesquisas, Stefanie Spera, psicóloga e proprietária de uma empresa de recolocação, decidiu testar a tese do colega: seu objetivo era ajudar um determinado grupo de engenheiros que passara por um processo de reestruturação e conseqüente demissão. Todos eram ex-funcionários de uma grande empresa de computação de Dallas que, durante sua história, jamais fizera demissões em massa.
Dada a baixa taxa de turnover, a maioria dos profissionais tinha quase trinta anos de casa e idade média de 52 anos. Apesar disso, todos se viram numa situação na qual, após a comunicação da dispensa, “foram escoltados às suas mesas por um segurança, que ficou vigiando enquanto eles juntavam seus pertences. Depois foram levados à porta da frente, obrigados a entregar suas chaves e seus crachás... Assim, sem nenhum aviso, sem nenhuma consideração pelo tempo que faltava para se aposentarem”, conta Pennebaker.
Histórias de humilhação e ultraje
Pennebaker participou de encontros onde foram entrevistados quase cinqüenta homens, a maioria amargurada e hostil diante dos fatos ocorridos e da proposta de escrever sobre o que lhes acontecera. Contudo, a perspectiva de aumentar as possibilidades de encontrar um novo emprego foi o suficiente para que aceitassem a participar do estudo.
Divididos em três grupos, os executivos do primeiro grupo foram orientados a escrever por cinco dias consecutivos, durante trinta minutos, sobre os pensamentos e sentimentos mais profundos ligados à perda do emprego. Ao segundo grupo foi solicitado que escrevessem no mesmo período e tempo sobre o que fizeram com seu tempo livre desde então. O terceiro grupo nada escreveu, servindo apenas como parâmetro para as observações.
O resultado foi surpreendente: os executivos que escreveram sobre os fatos traumáticos ligados ao trabalho foram extremamente abertos e honestos em suas redações e declararam que se sentiram muito bem imediatamente após a experiência. Os temas desenvolvidos descreviam a “humilhação e o ultraje de perder o emprego... os problemas conjugais, doenças e morte, dinheiro e temores em relação ao futuro”, relata o especialista.
Após três meses do estudo realizado, 27% dos participantes do grupo que escreveu conseguiram um novo emprego, enquanto somente 5% das pessoas dos outros dois grupos obtiveram sucesso. Nos meses seguintes, 53% dos “escritores” já estavam empregados, contra somente 18% dos demais grupos.
Menos hostilidade
Aqueles que escreveram sobre seus sentimentos e pensamentos conseguiram lidar melhor com a extrema raiva que sentiam e, por isso, nas entrevistas foram capazes de se mostrar menos frustrados com as circunstâncias da perda do emprego anterior. É possível que, para os entrevistadores, esses profissionais “deram a impressão de ser candidatos menos hostis e mais promissores”, conclui Pennebaker.
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