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Sem perspectivas de melhora na crise mundial, projeções de crescimento seguem ladeira abaixo

Dos 4,5% previstos para a expansão do PIB, as previsões já estão abaixo dos 2%

SÃO PAULO — As perspectivas de crescimento para economia global este ano estão piorando, refletindo a crise do euro, a desaceleração das duas maiores economias do planeta, Estados Unidos e China, e o enfraquecimento dos países emergentes. Bancos, consultorias e instituições já estão refazendo seus cálculos para baixo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previa crescimento de 3,5% da economia mundial, mas o número será revisado para algo mais próximo de 3%. Em relatório global divulgado recentemente, o Citi reduziu sua expectativa de 2,7% para 2,6%. E a consultoria Tendências, de São Paulo, espera um crescimento de 3,1% contra os 3,5% previstos anteriormente.

O vice-presidente executivo de tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, avalia que os sinais de desaceleração econômica, em diferentes partes do mundo, se intensificaram nas últimas semanas. Na sexta-feira, a China reportou um crescimento de 7,6% da economia no segundo trimestre, o menor número desde 2009. Os Estados Unidos, que vinham criando cerca de 200 mil novos empregos por mês, no início do ano, em junho criaram apenas 80 mil. Um sinal de que a engrenagem econômica está funcionando num ritmo abaixo do esperado.

E, no Brasil, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), elaborado pelo Banco Central, mostrou, na semana passada, que a atividade econômica recuou 0,02% em maio, apesar de vários incentivos fiscais do governo para a indústria, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros novos e alguns itens da linha branca. E apesar de todos os estímulos ao crédito, com reduções seguidas de juro ao consumidor, as vendas no varejo brasileiro surpreenderam em maio ao recuar 0,8% frente a abril. Foi a maior queda desde novembro de 2008. No primeiro trimestre, o crescimento do PIB brasileiro ficou em 0,2%, segundo o IBGE.

Com isso, a expectativa do ministro da Fazenda Guido Mantega para o crescimento do país, que era entre 4,5% e 5%, no início do ano, foi reduzida atualmente para 2,5%. O Banco Central reduziu sua previsão de 3,5% para 2,5%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu de 3% para 2,1% a previsão de crescimento para o PIB do país e o boletim Focus, que capta as estimativas de mercado, mais recente, revisou sua projeção de 2,01% para 1,9%.

— Antes, o foco de preocupação era a crise do euro. Agora, há vários focos. Os EUA que não crescem como se espera, a China desacelerando de fato. Tudo isso, reflete no ritmo da economia brasileira, que deve crescer 2,5% contra os esperados 5% do início do ano pelo governo — avalia Folchini.

O economista Silvio Campos Neto, da Consultoria Tendências, avalia que, por enquanto, a crise do euro está sem perspectiva de solução. Países como Espanha, Holanda, Portugal, Grécia, Itália e Chipre estão em recessão após dois ou mais trimestres consecutivos de retração econômica. E a Alemanha, a força econômica do euro, vai crescer pífios 0,7% este ano, segundo as previsões.

— A dificuldade dos países em implementar as medidas de austeridade mantém sem perspectiva a zona do euro. Nos EUA, o número de novas vagas de emprego criadas em junho (80 mil) mostra claramente que o PIB está crescendo menos do que o esperado. E em relação à China, a dúvida é saber se a desaceleração da economia será suave (crescimento de cerca de 7%) ou um pouso forçado (6%) — diz Silvio Campos, da Tendências.

Para o economista Sergio Vale, da MB Associados, todos os países estão em desaceleração por causa da Europa.

— A parada de decisões de investimento decorre do risco cambial que existe de não termos mais o euro. Isso pode acontecer se algum dos países decidir sair da união monetária. Como o pior não parece ter passado ainda, veremos um bom tempo de desacelerações em todos os países, inclusive aqui no Brasil — diz Vale.

A Tendências também reduziu a previsão de crescimento econômico em 2012 tanto para China quanto para os EUA. Para a China, a estimativa caiu de 8,5% para 8% e para os EUA de 2,3% para 2%.

— A desaceleração chinesa bate diretamente no ritmo de crescimento do Brasil, já que o país asiático é o prinicipal comprador de produtos agrícolas e commodities brasileiras. O ganho de renda que vimos nos últimos anos deveu-se ao aumento do comércio com a China — lembra Silvio Campos, da Tendências.

Numa tentativa de mudar esse quadro, os principais bancos centrais vêm promovendo um movimento generalizado de redução de juro. É uma tentativa de estimular o crédito e ampliar o consumo doméstico. Só a China, reduziu a taxa de juro básica duas vezes entre junho e julho. Para empréstimos de um ano, o juro caiu de 3,25% para 3% ao ano. Na zona do euro, o juro caiu de 1% ao ano para 0,75%. No Brasil, a taxa está no menor patamar de sua história - 8% ao ano - e já há quem aposte que a Selic chegue abaixo de 7% em dezembro. Até o BC da Coréia do Sul, que não mexia nos seus juros básicos desde 2008, fez uma redução de 0,25 ponto percentual na semana passada. O juro coreano caiu para 3% ao ano.

— O problema é que o juro no exterior já estava muito baixo antes das reduções e, mesmo assim, as economias não reagem. Nos EUA, estão em 0,25% ao ano. Na Europa, em 0,75% e no Japão estão em zero. Há pouco espaço para ações de política monetária nesses países. A China e o Brasil ainda levam alguma vantagem nisso — lembra o economista da Tendências.
Na última quinta-feira, diante do quadro de crescimento muito baixo da economia brasileira revelado pelo indicador do BC, a presidente Dilma Roussef desdenhou do PIB como indicador de uma grande nação.

— Uma grande nação tem que ser medida por aquilo que faz por suas crianças e adolescentes, e não pelo PIB — afirmou a presidente.

Na sexta, Dilma Rousseff afirmou que não recorrerá a medidas de austeridade no combate à crise econômica, como fazem alguns países da Europa, como a Espanha. Segundo ela, o Brasil usa uma fórmula mais eficiente: fomentar o desenvolvimento “distribuindo o bônus para o povo”.

— Hoje eles (os espanhóis) estão cortando o 13° salário, 30% do salário dos vereadores e aumentando os impostos e (mesmo assim) o país vai de mal a pior — disse a presidente.
Para o economista Silvio Campos, da Tendências, não adianta mudar o discurso e o foco, quando a situação econômica é desfavorável. É preciso atacar o problema.

— O PIB sempre foi o direcionador de riqueza das nações. O Brasil poderia ter solucionado problemas estruturais para reagir com mais vigor numa situação conjuntural ruim como essa. O país não cresce mais porque tem gargalos em vários setores, falta competitividade às indústrias, assim como é preciso investir em mão-de-obra qualificada. Tudo isso diminui nossa capacidade de reagir a uma situação de crise e crescer mais — diz o economista da Tendências.



Fonte: Infoglobo Comunicação e Participações S.A.



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